Cultura Alimentar Paraense: Ancestralidade, Memória e Resistência

Cultura Alimentar Paraense: Ancestralidade, Memória e Resistência

(Prof. Me. Advaldo Castro Neto)

RESUMO: Falar de comida é discorrer acerca de culturas e sociedades – portanto, traz ao logos da memória hábitos e costumes, que simbolizam os modos de pensar, ser e existir de diversos grupos sociais. A comida amazônico-paraense tem característica singular; é demasiadamente democrática, pois é amplamente acessível às pessoas, independentemente de seu poder aquisitivo. O acesso por todas as classes socioeconômicas desta comida revela, também, seu caráter de resistência. Afinal, trata-se da força ancestral de um povo que embora invadido e exterminado, legou à posteridade esta cultura socializada a partir da comida. Em um país-continente no qual a necropolítica sobrepuja os seres sociais, escolhendo quem morre e quem vive por diversos mecanismos; entre estes, a insegurança alimentar e a fome; a resistência do ser e existir amazônico-paraense através da culinária democrática desta cultura, evidencia o valor e carga socioantropológicas não só da comida, mas do comer. Câmara Cascudo (2011), em seu livro "História da Alimentação no Brasil", argumenta que "um povo que defende os seus pratos nacionais, defende o território", assim considera-se o consumo de pratos tradicionais, também chamados de típicos, exprimir ato de resistência às influências de culturas exteriores e uma reafirmação do valor nacional. A comida pode ser vista como um ativo cultural, pertencimento, algo que não necessita de tradução para ser entendida. Comida comunica quem somos e de onde viemos. Comida reúne, agrega. É imersão cultural, que conta por meio de ingredientes a nossa história. Por meio de preparos ancestrais perpetuamos culturas, saberes e sabores. Podemos dizer, portanto, que a comida paraense aglutina pessoas, ao invés de excluir, aproxima. No viver do paraense, essas comidas se fazem presentes, como entes queridos, algo que se ama e que, sem elas, é impossível se pensar o próprio existir, tão forte estão arraigadas à cultura.

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